quarta-feira, 2 de maio de 2012

4º Encontro dos Movimentos Sociais



Cerca de mil de pessoas participaram, na manhã de sábado (28), do primeiro debate do 4º Encontro dos Movimentos Sociais,  que foi realizado na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). João Pedro Stédile, da Coordenação Nacional da Via Campesina; Beatriz Cerqueira, do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (Sind-UTE); e Gladstone Reis, da Associação Metropolitana dos Estudantes Secundaristas da Grande Belo Horizonte (Ames-BH) fizeram análise de conjuntura sobre o tema “Minas, Brasil e Mundo”. Á tarde, o tema do debate é  “Educação: 10% do PIB, PNE e Piso Salarial”.
João Pedro Stédile fez um apelo à unidade dos movimentos sociais e sindicais em torno dos interesses do povo como condição para derrotar os capitalistas e transformar a sociedade. Para Stédile, a unidade depende do entendimento da atuação de três atores da luta de classe – os capitalistas, o governo e a classe trabalhadora – na conjuntura atual.
“A economia brasileira está sendo dirigida pelo capital financeiro e pelas grandes corporações internacionais. O capitalismo tem várias prioridades no momento: se apropriar de todos os recursos naturais, das fontes de energia, ampliar a capacidade da indústria automobilística, explorar ao máximo a especulação imobiliária e dominar as comunicações.  O Brasil virou de novo um país exportador de matérias primas: minério, petróleo, soja e carnes. Estamos com uma bomba-relógio acionada. O país está ainda mais dependente do capital financeiro e mais vulnerável”, avaliou Stédile.

Para o dirigente da Via Campesina, neste cenário, o governo Dilma, que é uma frente heterogênea e até contraditória. “O governo Dilma enfrenta alguns dilemas. Não enfrenta o capital financeiro e, por isso, não reduz a taxa de juros. O governo também não tem coragem de decretar uma moratória interna, deixar de pagar deixar de pagar os bancos para investir na educação, na saúde e na reforma agrária. Além disso, houve um retrocesso com relação aos governos de Lula. O  ministério do governo Dilma é medíocre e tem uma composição política absurda. O ministro das Cidades é neto de um fazendeiro da Paraíba que mandou matar a Margarida, cuja história originou a Marcha das Margaridas”, protestou Stédile.

Ele avalia que a classe trabalhadora, terceiro ator da luta de classes, vive uma situação difícil, mas não superável. “A classe trabalhadora está num momento de dispersão. Milhões de trabalhadores estão isolados e isso não gera consciência de classe. Houve avanços, como  a melhoria da divisão de renda. Mas grande parcela da classe trabalhadora está iludida pelo consumismo. 48% da classe está endividada. Estamos num período longo de descenso do movimento de massas. Não há um processo de acúmulo para um projeto popular”, disse.


João Pedro Stédile, contudo, mantém o otimismo quanto ao futuro dos trabalhadores brasileiros. “Haverá um novo período de ascensão da classe trabalhadora. Há sinais positivos, como esse conjunto de greves de professores, que começou aqui em Minas. As greves nas obras da Copa, sem a participação de sindicatos, mostram que os trabalhadores estão se organizando. A juventude fez um escracho da ditadura militar e dos torturadores. Fizeram protestos pelo país e a mídia teve que mostrar,  foi obrigada a publicar. Agora temos outra chance que é a CPI do Cachoeira. Uma CPI institucional em que o vilão é o capital financeiro e desnudou a revista Veja.  Mostrou a Veja foi pautada por um bicheiro e porta-voz de que há de pior no capitalismo. Quanto à crise internacional, ela vai chegar ao Brasil. Mas temos que nos preparar, temos que tirar proveito disso e colocar na pauta um projeto popular para o país.”

Para Gladstone Reis, presidente da Ames-BH,  a realização do 4º Encontro dos Movimentos Sociais na Assembleia Legislativa é emblemática. “Ocupamos um espaço da  burguesia que enriqueceu com a ditadura militar. Trabalhadores do campo e da cidade estão reunidos aqui em busca de um projeto popular para ao Brasil.”  Gladson enfatizou que a crise financeira mundial é uma crise do próprio capitalismo e falou sobre a conjuntura em Belo Horizonte, lembrando dos embates dos estudantes com a Prefeitura de Belo Horizonte na luta pelo passe-livre.

Beatriz Cerqueira, coordenadora-geral do Sind-UTE, fez uma análise da conjuntura estadual e cobrou a retomada  em Minas Gerais da disputa de projeto político. “Em Minas Gerais os partidos de esquerda estão abandonando o debate ideológico e a disputa de projeto. Nas eleições de Belo Horizonte há a possibilidade de se juntarem na mesma mesa partidos que não têm qualquer afinidade em termos ideológicos. E o que é pior, corremos o risco de contribuir para que o projeto neoliberal retorne ao Palácio do Planalto em 2014. Os movimentos sociais têm papel fundamental para impedir que isso aconteça. É bom lembrar que este projeto neoliberal é responsável pelo recrudescimento das relações com os movimentos sociais e sindicais. Nós trabalhadoras temos dois desafios: resistir e construir.  Nós estamos num momento de resistir, senão não conseguiremos impedir o retorno do projeto neoliberal à Presidência da República”, disse Beatriz.

Gladstone Reis, Beatriz Cerqueira e João Pedro Stédile

A coordenadora-geral do Sind-UTE entregou a Gladson Reis, a João Pedro Stédile e ao embaixador da Venezuela no Brasil, Maximillién Sanchéz, os símbolos da campanha salarial dos educadores de Minas Gerais: um prato, que retrata fome de melhorias para os educadores no estado; e um Dossiê da Educação.
Beatriz Cerqueira e o embaixador Maximillién Sanchéz


A programação do 4º Encontro dos Movimentos Sociais prosseguiu no domingo (29). Às 8h30 com a mesa “Privatizações, Terceirização e PPPs: Água, Energia, Saúde e Aeroportos”, com a participação de Jairo Nogueira, do Sindieletro-MG; José Maria dos Santos, do Sindágua; Joceli Andrioli, do MAB; Bruno Pedralva, do Fórum de Defesa do SUS; Padre José Geraldo, do movimento Nós Amamos Neves; e Marcelo Andrade Schmidt, do Sindicato  Nacional dos Aeroviários.

Por Rogério Hilário
Com edição e fotografias de Taís Ferreira
Confira em http://www.minaslivre.com.br

Confira cobertura fotográfica de Taís Ferreira:















































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